quarta-feira, setembro 19, 2007

Soneto e Poesia de Epifânio Dória

NENIA

Filha, porque tão cedo te partiste
Para as sombras, sem fim, da Eternidade?!
Porque às glórias do Céu não desististe,
Para a teus pais poupar tanta saudade?!

Como foi doloroso o instante triste
Em que te a morte levou, sem piedade,
Filha adorada que jamais sentiste
As vertigens do gozo e da vaidade!

Filha do Céu, bem vês que conduziste
Ao regaço da campa em que caíste
Nossos anseios de felicidade !

Dorme, porém, o sono derradeiro,
Ao abrigo de golpe traiçoeiro
Deste mundo tão cheio de maldade.

Ao Desembargador Josias Soares e sua Exma. Esposa, D. Arlinda Soares, pela morte prematura de sua dileta filha, srta. Mariinha Soares. Publicado na "Folha da Manhã", de Aracaju, em 20.12.1940 e na "Vida Capichaba, de Vitória, em 30.03.1941.


RECORDAÇÃO

São muitos cruéis os anos
Que passam por sobre nós:
Nos enchem de desenganos
E a vida tornam feroz!

Que belos dias vivemos,
No Velho Bairro Caído,
Onde nós dois estivemos,
Com Isaias querido !

Era tão simples a vida,
Era tão pouco o sofrer,
Que doce nos era a lida,
A luta pelo viver.

As quixabeiras floridas,
Sob o zumbir das abelhas;
As tardes sempre tingidas
Por longas faixas vermelhas;

Os cajueiros tão belos,
Eram só tres, entretanto,
Dando frutos amarelos
Os quais eram nosso encanto;

À direita as goiabeiras,
Ao pé dum velhi purão,
Onde as águas das biqueiras
Transbordavam para o chão;

Um frondoso juazeiro,
Frondoso e bem verdejante,
Dava sombra o dia inteiro
Contra o sól extenuante;

Os cabritos bodejantes
Que a tarde eu ia prender,
Sempre alegres, saltitantes;
(como eu gostava de os ver!)

Os borreguinhos de neve,
Nos dias de frio inverno,
Abalando a cauda leve,
Sugando o leite materno;

As vacas, tristes, mugindo,
De seus filhos separadas
Constantemente carpindo
De saudades torturadas;

Tudo, tudo na lembrança
Eu trago sempre gravado:
Os tempos meus de criança,
As cousas do meu passado.

Aqui está, mana Judite,
Velha irmã do coração,
Meu testemunho, acredite
De sincera adoração.

20 de novembro de 1941

2 comentários:

Anônimo disse...

Raquel:

Estou retribuindo a sua visita ao meu blog EDUCAÇÃO É HISTÓRIA. Obrigado pelos comentários elogiosos. Adorei! Você está de parabéns pelo modo como vem celebrando a memória de Epifânio Dória e também pelos seus registros sobre Aracaju. Gostei muito. Estou colocando um link do seu blog, na lista de links do meu blog. Se você não aprovar esta liberdade, posso fazer a exclsão posteriormente.

Volte sempre para novas visitas ao EDUCAÇÃO É HISTÓRIA. Confesso-lhe que voltarei mais vezes para visitar o seu blog.

Abraços,


Jorge

Anônimo disse...

teste